A Conferência, que se realizou na passada sexta-feira (31 de março), contou com a presença do engenheiro Pedro Serra, notável especialista nesta área, que apresentou o estudo “A Agricultura e a Água”. A sua intervenção descreveu a evolução das políticas de aproveitamento hídrico nas últimas décadas e apontou as mudanças de paradigma que nos trouxeram até aos dias de hoje onde uma agricultura de suporte tecnológico e digital, capaz de maior eficiência e produtividade sustentável, caminha a par das grandes questões mundiais das alterações climáticas e alternativas energéticas.
Com Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP, a assumir o papel de moderador, seguiu-se uma Mesa Redonda com um painel de convidados constituído por reconhecidas personalidades da área, tanto pelo trabalho desenvolvido na academia como na administração, como Carmona Rodrigues (Universidade Nova de Lisboa), Pimenta Machado (Agência Portuguesa do Ambiente), Miguel Miranda (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), Francisco Gomes da Silva (Instituto Superior de Agronomia) e Rui Veríssimo Batista (Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado).
Interpelados pelo presidente da CAP com diversas questões, os participantes deixaram claras, através da exposição dos seus argumentos, algumas diferenças de base entre a interpretação e avaliação da Agência Portuguesa do Ambiente (que tutela os recursos hídricos) e dos empresários agrícolas, pois onde a primeira vê “gastos de um bem natural”, os segundos vêem a “utilização de um recurso natural”; onde a primeira vê o “desaparecimento da água”, os segundos vêem a “transformação” da água em alimentos.
Neste sentido, não surpreendeu a posição do vice-presidente da APA que reiterou a política da Agência ao apelar à prudência na necessidade de mais barragens para armazenamento de água e ao identificar a actividade agrícola como responsável por mais de 70% de ‘gastos’ de água. Porém, a audiência também não deixou de registar a sua afirmação de que “a APA não tem tabus”, numa perspectiva de diálogo a que o sector não está habituado, mas de que tomou boa nota.