O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa, atendendo às múltiplas e inaceitáveis declarações que têm vindo a ser feitas, ao longo da última semana sobre a agricultura portuguesa, e à imensa desinformação que circula no espaço público e mediático, em particular sobre a situação no concelho de Odemira, com destaque para as freguesias de São Teotónio e Longueira/Almograve, convocou a Comunicação Social para um encontro na sede da CAP, no dia 5 de Maio.
Recorde-se que o primeiro ministro anunciou, na noite de quinta-feira 29 de Abril, a entrada em vigor de uma cerca sanitária, a partir das 8 horas do dia seguinte, nas freguesias de S. Teotónio e de Longueira/Almôgrave, no concelho de Odemira. Com esta decisão ficou impedido o acesso dos trabalhadores às explorações agrícolas aí localizadas, nomeadamente estufas de frutas, legumes e flores, produtos cuja colheita não tolera qualquer atraso, transformando-se em total desperdício.
Na conferência de imprensa esteve presente o presidente da CAP e também Gonçalo Santos Andrade (Vice-presidente da CAP e presidente da PORTUGAL FRESH - Associação para a promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal) que ajudou a traduzir em números o impacto económico e social desta decisão do Governo: 1.600 toneladas de produção desperdiçada e mais de 6 milhões de euros perdidos, numa semana, para além da quebra de contratos e da consequente perda de clientes nacionais e internacionais.
Santos Andrade frisou que o sector das frutas, legumes e flores em Portugal é mundialmente reconhecido pelo seu profissionalismo e pela qualidade dos produtos, tendo as exportações duplicado durante a última década, e que muitos dos clientes se deslocam às explorações para conhecerem os produtos mas, igualmente, as condições de vida dos trabalhadores.
Para a CAP, a situação pandémica no concelho de Odemira está a servir de palco a uma das mais deploráveis campanhas contra a agricultura portuguesa de que há memória. A agricultura, um setor campeão das exportações nacionais, que tanto valor acrescentado traz ao nosso país, vê-se envolvida num rol de acusações infames às quais é preciso dar a devida resposta e fazer o devido contraditório.
A CAP considera imprescindível que seja instituído um mecanismo fiável de testagens que permita a circulação de proprietários e de trabalhadores para efeito de acesso às produções agrícolas, mediante apresentação de comprovativo de teste negativo para a Covid-19.
Quem não está, comprovadamente, infetado e pode trabalhar, deve poder ir trabalhar. As consequências da manutenção da cerca sanitária são certas: prejuízos de milhões, falências e desemprego massivo, muito dele irrecuperável. Está o Governo disponível para pagar a fatura dos prejuízos económicos dos agricultores e os custos do colapso social e humano de milhares de pessoas que não terão sustento e emprego no curto prazo se continuarem impedidos de aceder ao seu local de trabalho? Esta é uma verdadeira questão de Direitos Humanos que deve ser considerada!
Quanto aos alojamentos, a Confederação reclama a reposição da verdade dos factos, porque os agricultores cujos trabalhadores não vivem nas quintas não só são alheios a esta questão (como qualquer empregador de outra qualquer área de negócios) como andam há anos a chamar a atenção dos poderes públicos e a apelar, ao nível local e nacional, para que esta situação seja resolvida. Não sendo responsáveis pelos alojamentos, estes têm vindo a apelar para que o Estado aja, de forma reiterada.
Os agricultores estão a ser vítimas da inacção do Estado, que ao longo de mais de uma década optou por fechar os olhos à chegada crescente de trabalho imigrante na zona do perímetro de rega do Mira e às suas reais necessidades, incluindo de alojamento.
Fonte: Conferência de Imprensa, 05/05/2021