Senhores candidatos a eurodeputados, muito boa tarde.
A Agricultura tem, na Europa, e no Mundo, a expressão de um dos mais importantes sectores da economia, associada à primeira necessidade do ser humano, a Alimentação.
Fruto da terrível guerra que mergulhou a Europa numa crise de fome sem precedentes, surgiu a Política Agrícola Comum que, com o evoluir dos tempos, chega aos nossos dias mantendo-se como o verdadeiro eixo em torno do qual a União promove e defende o sector agrícola e, por via disso, os seus cidadãos.
A sociedade moderna, hoje, confrontada por exemplo com a globalização, preocupações ambientais e até alterações de comportamento, desvia a atenção da verdadeira importância que a agricultura tem e representa para as suas vidas, colocando em causa o modelo e a arquitectura das ajudas e, pior que isso, incutindo a errada noção de que a agricultura pode ser prejudicial para o ambiente.
Questões como a Água, as Alterações Climáticas, o uso de produtos fito-fármacos, com destaque para a “guerra” ao Glifosato, a pecuária, tudo parece servir para apontar o dedo ao sector agro, onde até a floresta, a sua gestão e as suas espécies, enfim, parece não haver tema, produto ou modo de produção que satisfaça uma sociedade cada vez mais urbana e metropolitana, que estuda pouco, mas que opina muito, com a ajuda nem sempre fiável das redes sociais, das fake news, e um desconhecimento infelizmente demasiado abrangente e horizontal.
Esta “nova” sociedade está assim a afastar-se do Mundo Rural e, consciente ou inconscientemente, a colocar em causa muito mais que a agricultura. Coloca em causa, e chega mesmo a combater, os seus costumes, as actividades tradicionais e ancestrais, em suma, denigre a própria herança e o modo de vida que os habitantes desses territórios transportam e tanto se empenham em manter e transmitir.
O que fazer para regenerar confiança da sociedade nos agricultores e na forma sustentada como hoje praticam a sua actividade? Sim, caros candidatos, se há sector que evoluiu e abraçou a tecnologia e a sustentabilidade, foi, ou melhor, é a agricultura.
As Alterações Climáticas vão obrigar a mudanças, muitas delas ainda desconhecidas. A violência das tempestades, os períodos longos sem chuva, as temperaturas mais extremas. Tudo tem de ser revisto e adaptado a esta nova realidade ainda com contornos mal definidos.
A Água, que no norte da Europa era tema por motivos de qualidade, e no sul um problema de quantidade e de oportunidade de acesso, passou a ser um elemento que se percebe ter de ser, nos dias correntes, muito melhor gerido em todo o espaço europeu.
Aliás, entrando um pouco neste tema que desejaria também introduzir, a Directiva Quadro da Água necessita, na sua próxima revisão, de gizar um enquadramento que divida a Europa em duas grandes manchas. O norte e o sul, ou, se preferirmos, a região Atlântico-Continental e a região Mediterrânica, onde nos inserimos.
Precisamos, no sul, de tomar as rédeas sobre como preservar e assegurar o uso de tão precioso recurso. É imperioso aumentarmos as nossas reservas estratégicas. Precisamos de criar uma visão em torno da água, o principal recurso no combate à desertificação e ao abandono já muito expressivo em vastas regiões do nosso território.
A produção animal, consentânea com os padrões de bem-estar hoje aceites e defendidos na nossa região, e a sua ligação ao mundo globalizado e aos acordos internacionais de comércio.
A defesa do Mundo Rural, como atrás referi, as suas tradições e costumes, face a uma sociedade que se está a transformar em hostil.
A confiança e a segurança dos modos de produção da Europa, como a Produção e Protecção Integradas, o Biológico, ou orgânico, como alguns preferem, complementares e compatíveis entre si, e não antagónicos.
O desafio que constitui a Neutralidade Carbónica, e o papel pro-activo que a agricultura, a pecuária e a floresta podem, e dão já, como contributo positivo a tão necessária e ambiciosa meta.
Todos estes temas gostaria de lançar neste debate que se pretende aberto e abrangente.
Neste entretanto, a União está ainda suspensa em termos orçamentais. Temos eleições à porta, há a questão do Brexit, enfim, tudo um pouco contribui para a criação de uma inquietante incerteza, que se arrasta.
Importante é, para nós, o orçamento para a Política Agrícola Comum, que se deseja não diminuído face ao anterior, por forma a permitir uma continuidade do modelo agrícola Europeu, pese embora haja correções importantes que deverão continuar o seu percurso, como seja a aproximação dos valores recebidos pelos agricultores dos diversos países, a designada convergência.
Enfim, são os senhores que nos têm de manifestar os vossos pontos de vista. São os senhores quem vai nos próximos anos ter a obrigação de defender o País e os nossos agricultores neste meio que, sendo amplo e diverso, não pode perder o seu cerne de União.
Por fim, são os senhores quem terá de erguer a voz na defesa intransigente do que nos diferencia, face à nossa localização, ao nosso modelo de sociedade, aos produtos que produzimos, na defesa da nossa identidade.
Agradeço-vos, em nome dos Agricultores de Portugal, mas também em nome dos agricultores europeus, terem aceite participar neste debate.
Queremos ouvir as vossas opiniões, os vossos contributos, essencialmente, contudo, a vossa mensagem sobre como se posicionarão nos próximos anos nesta casa, em Bruxelas, onde se decidem e conduzem os destinos dos povos da União Europeia. Qual a mensagem aos portugueses, para que tomem a devida consciência do peso da responsabilidade que têm os eurodeputados nas decisões aqui tomadas, para as suas vidas. Se passarem essa mensagem, seguramente que muitos votarão no dia 26 de Maio.
Obrigado, e bom debate.
Eduardo Oliveira e Sousa - Presidente da CAP
Bruxelas 3 de Abril de 2019